terça-feira, 21 de agosto de 2012

15/01 Quarto dia

Tomamos cafe-da-manha em casa. Tivemos paes, manteiga, ovos mexidos, leite e muito bom humor. Saimos de casa as 8:00! Mais uma vez, passamos pelos mesmos lugares, porem, fiz uma nova observacao sobre as barraquinhas: venda de carvao. Os montinhos ficam expostos no proprio chao. A grande maioria da populacao necessita do carvao, pois nao possui fogao a gas.
Hoje, nos afastamos mais da cidade, por isso, pegamos grandes vias com pista dupla. Vimos muitos carros novos e velhos, prevalecendo Toyota e Hyundai. E claro, as chapas. Algumas ate mais sofisticadas onde as pessoas nao precisam sentar nas beiradas. Podem sentar em bancos colocados dentro da carroceria. Inclusive, vimos uma viatura da policia exatamente assim: policiais fardados sentados em bancos na carroceria da caminhonete. Eram homens e mulheres, simpaticos e sorridentes. Porem, nao "fotografaveis". Eles nao podem ser fotografados e essa foi uma advertencia feita por Agustinho logo apos uma de nos ter mirado a camera na direcao deles. Pela forma como ele nos advertiu, a falta poderia ter sido grave.
O sinal da chegada ao nosso destino foi muita areia, saimos da estrada asfaltada e entramos em um areial. Na verdade, tivemos de fazer um pequeno retorno. Passamos pelo templo e nao o vimos. Numa rua bem estreita e arenosa, la estava a pequena igreja, apenas paredes sem reboco. Nao havia piso, nem teto, nem janelas e nem portas. A ausencia de parede formando uma abertura na entrada era o lugar de passagem para dentro. Havia muitas cadeiras embaixo de um lona que servia como teto. Muitas cadeiras, mas nao suficientes pro tanto de pessoas presentes. Como nao tomamos assento, um dos mocambicanos nos disse: "Se voces nao sentarem, eles nao irao sentar. Eles prepararam isso pra voces." Isso fez com que alguns se sentassem. Cada vez mais pessoas chegavam, algumas trazendo consigo esteiras de palha. Quando as esteiras foram estendidas no chao, criancas que estavam no colo de alguns de nos, imediatamente se sentaram sobre elas, como se isso fosse um habito. Poucos minutos depois, la estavam dois jovens, um homem e uma mulher, conduzindo um animado e dancante louvor. Algumas musicas possuiam coreografias que idosos, adultos, jovens e criancas dancavam. A maioria das cancoes sao cantadas em portugues e em shangana. A letra eh a mesma, mas para cada metade da musica, eh cantada em um dos dois idiomas.
No momento das ofertas, um dos homens que conduziu o culto me mostrou alguns dolares e me perguntou quanto a soma das cedulas valia. Somei uma nota de 50, uma de 10 e outra de 1. Respondi: "61 dolares". Ele retribui um sorriso satisfeito. Por nao estar acostumado com aquelas notas, certamente quis um confirmacao da quantia. E os dolares estavam ali, porque um de nos ofertou. Durante todo o culto, ha uma pessoa traduzindo as palavras de shangana para portugues. Como ja mencionei em outro post, as pessoas mais velhas nao compreendem o portugues. Juliana, responsavel pelo Projeto Maputo, apresentou nosso trabalho e isso foi especial para ambas as partes, para nos e para eles.
Terminada a celebracao, um grupo foi distruibuir leite para as criancas e outro iniciou o atendimento medico. Eu e um dos cardiologistas do grupo fizemos visita domiciliar para uma senhora paraplegica que sofreu AVE (acidente vascular encefalico). Ao chegarmos na casa, o filho dessa senhora pediu para que esperassemos a esposa dele limpar sua mae. Terminado o prazo, entramos num quarto onde a senhora estava deitada sobre um colchao. No quarto, so havia esse colchao, do lado dele, o chao estava umido, provavelmente da "limpeza" que a senhora recebeu. Rodrigo, o cardiologista, pediu para o senhor X falar para sua mae que estavamos ali pra examinar ela alem de nos apresentar. X foi resistente, dizendo que ela nao entende mais nada. Dr. Rodrigo pediu mais uma vez, pra que a informacao fosse dada. Fizemos o exame fisica, a pressao estava alta e felizmente nao havia escaras. X disse contou que sua mae consegue rolar, muitas vezes a deixam no colchao e quando voltam ela esta fora dele. Isso contribuiu muito pra que ela nao desenvolvesse as escaras. Ao final, quando estavamos indo embora, a senhora que o filho insistia em dizer que era irresponsiva, acenou para nos fazendo sinal de tchau. Pareceu um gesto de agradecimento pela forma como havia sido tratada. Saindo dessa casa, andamos ate uma outra casa. O que nos chamou a atencao de cara foram imensos pes de manga repletos de frutas. 2 visitas parece moleza e jogo rapido, mas na verdade tivemos que andar bastante sob um sol escaldante. O estomago ja estava pedindo por comida. Embaixo de uma das arvores estava nossa paciente, sentada em uma esteira de palha com as duas pernas estendidas. Um rapaz foi logo traduzindo oque essa senhora queria nos dizer. Ela nao conseguia flexionar os joelhos e por isso sentava daquela forma. Pra levantar precisou de ajuda. Aferimos a pressao que estava altissima. Em agradecimento ao nosso atendimento ela ofereceu mangas que para outras pessoas custavam algum dinheiro, mas pra nos, seria de graca. Vendo nossas maos e bocas meladas ela ofereceu agua em um balde que havia trazido de dentro de casa. Antes que um de nos enfiasse a mao la dentro, a senhora deu um berro! O moco tradutor foi logo avisando que ela jogaria a agua em nossas maos porque aquele balde servia pra que ela tomasse banho. Nao poderia ser sujo. Depois de toda hospitalidade, voltamos pra encontrar o grupo. Na volta, passamos em um restaurante e comemos. Ja era 17:30. A noite, tambem trabalhamos com os dados colhidos durante o dia, passando tudo para o computador. Por fim, fomos descansar...