sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Segundo dia 13/01



Não sei se por ansiedade, mas acordamos uma hora antes do combinado, começamos a arrumar e só percebemos o adiantamento porque sobrou tempo entre a hora em que estávamos prontos ate a chegada do Agustinho para nos buscar. E olha que o Jet lag estava intenso, a diferença eh de 4 horas, acordamos as 2 da manha no horário de Brasília. A van estava as 7:15 (horário local) a nossa porta.

De dia, tudo muda e a impressão eh diferente! Primeiro, o transito. O transito de Maputo eh péssimo! Não da pra entender bem o porque, mesmo sem semáforos sempre ha filas de carros. São pistas simples que andam muito lentamente, as vezes param, e depois voltam a andar bem devagar. Muito “areial” como diz Agustinho, que são terrenos arenosos. Os carros em sua maioria não estão em bom estado e em geral, o transporte eh feito pelas chapas, veículos que usam a carroceria para transportar gente, quantas pessoas couber. Foi exatamente no caminho que tive aquela sensação: “caiu a ficha”, estou em Maputo! Muitas pessoas andando a pe, mães carregando seus bebes nos panos (assim como imaginamos a África), muito lixo no chão e claro, pessoas negras. Pra nos, brasileiros isso nao eh incomum, mas quando se trata de 99% das pessoas serem negras, atrai muito a atenção. Paramos em uma conveniência para tomar café da manha. Um episodio engraçado: Augustinho pedindo “um palito para chupar o refresco”, ou seja, um canudo pra tomar refrigerante. Apesar de falarem português, ha algumas diferenças no sotaque e no significado de algumas palavras que deixam a conversa bem mais interessante e por vezes, engraçada.

Chegamos ao orfanato depois de quase uma hora. Sao 100 internos e 500 alunos. Essas crianças são acompanhadas por duas famílias de missionários brasileiros e mantidas por uma ONG americana. A área eh grande, ampla, no meio do nada, muito mata, areia, arvores e eucaliptos, o famoso repelente natural! O primeiro comentário dos missionários, enquanto mostravam o local pra gente, foi que nossas malas entraram “milagrosamente”. Durante os 14 anos que moram aqui, sempre SEMPRE, sofrem questões burocráticas em relação a bagagem. Inclusive, doações feitas de forma regularizada nem sempre chegam ao seu destino final; muitas vezes, o próprio governo vende e se beneficia do lucro. Existe uma padaria que funciona como fonte de alimento, escola para profissionalizar padeiros e ainda fonte de renda para manutenção do local, paes com preços baixos para serem revendidos. A cozinha tem panelas imensas e um refeitório integrado. Ha também um salão, onde as garotas aprendem técnicas para trancar cabelos, fazer unhas, etc. E pra mim, a melhor parte, a igreja. De longe, ouvíamos o louvor, digo de longe porque o espaço eh mesmo grande e pra andar de um lugar para o outro eh preciso usar os caminhos de cimento em meio a areia e as arvores, não eh um espaço integrado por paredes. A igreja estava cheia de gente cantando hinos num ritmo lento e sincronizado. Também usavam o corpo pra louvar, de um lado pro outro, eles se moviam, todos juntos como se fossem um só. Essa gente tem uma expressão corporal única e isso torna cada simples gesto uma comunicação muito estreita com quem os assiste, capaz de gerar profundas sensações. Também conhecemos o quarto das meninas. Nesse lugar, percebemos o cuidado que as crianças recebem. Cada cama eh personalizada por uma foto que fica acima de sua cabeceira e o nome logo abaixo do retrato. O carinho também eh perceptível pela forma como os missionários se relacionam com as crianças. Eles são apaixonados por elas. Conversaram com conosco sobre tudo, menos sobre o dia em que voltarão para o Brasil, porque para isso não existe data marcada. São pessoas que abriram mao de muita coisa pra viverem por crianças abandonadas pelos pais, mal cuidados, portadoras de HIV e outras órfãs de fato, sem pai ou mãe.


Depois do reconhecimento da área, colocamos a “mao na massa”. Começamos com os adultos, a maioria precisava de tradutor, pois ainda utilizam o dialeto shangana. Outros não sabiam a idade ao certo, sempre apontavam uma estimativa. As principais queixas foram dores por todo o corpo e problemas de vista. Para o ultimo, ficamos limitados na tentativa de prestar algum serviço. Nas crianças, medimos, pesamos e tratamos diversas doenças. Sabemos que não acompanharemos mais essas mesmas pessoas durante a viagem, mas também sabemos o impacto de cada momento que tivemos com cada um, porque esse impacto pode ser subjetivamente mensurado na forma como eles queriam realmente entender cada informação, na forma como seguravam os medicamentos e retribuíam com um sorriso ou expressão de alivio. Inclusive, Agustinho, entrou na fila e o atendemos.


Tivemos uma breve pausa para almoçar, comemos na casa de um dos missionários que nos serviu salada, arroz, feijão e frango. Depois, distribuímos escovas de dente e pastas, cantamos, brincamos e fomos muito felizes no nosso primeiro contato com a comunidade moçambicana.
Jantamos no shopping da cidade, pequeno e simples, não fomos para a parte interna, ficamos na área externa onde existe os restaurantes. Meu pedido foi crepe de carne, acreditem ou não, muito bom! No alojamento, tivemos a SORTE de escutar o ensaio do coral da igreja antes de dormir.

10 comentários:

  1. Parabéns pela atitude!Enquanto varias mulheres da sua idade estão preocupadas com suas vidas, ver uma dedicando a vida dos outros é gratificante e inspirador..Eu pessoalmente lhe agradeço, obrigado por nos mostrar tamanha compaixão, sentimento raro nos dias de hoje. Abraços.

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    1. Muito Obrigada!!! Ja que eh "Pessoalmente" pode identificar ne?! ;) Abracos

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  2. Parabéns pela atitude!Enquanto varias mulheres da sua idade estão preocupadas com suas vidas, ver uma dedicando a vida dos outros é gratificante e inspirador..Eu pessoalmente lhe agradeço, obrigado por nos mostrar tamanha compaixão, sentimento raro nos dias de hoje. Abraços.

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  3. minha florzinha, papai esta muito orgulhoso de ter uma filha como vc, continui assim, a vida eh bela, bjs te amo.

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    1. obrigada, meu amoooor! A vida eh bela pq tenho vcs e Deus. te amo d+

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  4. Camilla, aquele que começou a boa obra em sua vida vai terminá-la! Realmente sua vida é inspiração pra sua geração.

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    1. Amem, afonse!! Obrigada, digo o msm de vc. Na verdade, inspira minha vida.estamos juntos, parceiro.

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  5. Oi Camilla, meu nome é Cristiano. Já te vi algumas vezes, mas nunca soube nem seu nome. Em dezembro passado estive com algumas pessoas de Araguaína em uma reunião de amigos na casa de meu irmão em Goiania, e conversando amenidades seu nome foi citado e muito elogiado...perguntei quem era e como sou de Anápolis me disseram que você estudava la e me perguntaram se eu não a conhecia...disse que por nome não e me mostraram seu perfil no facebook. Um dia de bobeira entrei e vi esse seu projeto na Africa e fiquei muito feliz com o que...sinceramente fui bem inspirado por ele...obrigado de verdade por isso...não nos conhecemos, mas pode contar comigo nessa sua causa. Estou seguindo seu blog, continue escrevendo hein...rsrs...Abraços

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  6. Ola, Adriano. Muito Obrigada!!! Fico feliz por ter causado tamanha comocao. Espero que continue mesmo acompanhando meu blog viu?! abracos

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  7. ok. seguindo. Um beijo. Cristiano

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